Acordei naturalmente, olhei para as horas ainda era muito cedo, penso que foi a primeira vez que acordara sem a ajuda do despertador. O meu estômago aclamava por comida o que não é de admirar já que ontem não jantei.
Levantei da cama, já não sentia a minha cabeça pesada, isto é um bom sinal, mas agora não posso deixar-me desleixar, porque senão terei de ficar outra vez em casa e isso não quero.
Fui até á cozinha em passo de lã para não acordar Seiji, peguei numa fruta que estive-se á mão, voltei para o meu quarto para come-la. Levantei um pouco dos estores para clarear o quarto, sentei-me na secretária, ligando o PC, dando uma trincadela na maça.
Aproveitei o tempo para passar algumas faixas de musicas para o telemóvel.
Fui até a janela para abrir completamente os estores. A neve que cobria a paisagem á dias desaparecera por completo, o céu apresentava-se um pouco nublado pergunto-me se ia chover.
O despertador começou a tocar.
- Ora bolas esqueci-me de desligar esta coisa. – Correndo para junto do objecto, para desliga-lo.
Desliguei o PC dirigi-me á cozinha, hoje era a minha vez de preparar o pequeno-almoço. Para entreter-me pôs os fones nos ouvidos, ouvia a faixa dos Plastic Tree “Namae no nai hana”, por vezes cantava um bocado do refrão.
Quando virei-me para por a comida em cima da mesa, Seiji sorria-se encostado á porta da cozinha com os braços cruzados.
- Seiji!!! – Poisando a comida e retirando os fones.
- Vejo que sentes-te, já a cem porcento.
- É verdade. Hoje vou á faculdade e depois talvez trabalhar.
- Taro, acho que devias ir com calma, não?
- Hum... – Pensando. – Talvez tenhas razão, mas hoje vou á faculdade. – Determinado.
- Sim claro, mas uma coisa de cada vez. – Sentando-se na cadeira começando a comer. - Hum... isto é bom. – Satisfeito.
- A serio?! – Surpreendi-me, pois nunca fora bom cozinheiro. – Agradeço o teu elogio.
Enquanto comia-mos calmamente veio-me á lembrança de que Seiji levara-me ao colo para o quarto ontem há noite, engasguei-me corando.
- Então estás bem? – Preocupado.
- Sim, sim estou bem. – Levantando rapidamente ficando de costa para ele, enchendo um copo de agua.
- Se o dizes. – Continuando a comer.
Pois é tinha-me esqueço por completo, desse facto. Suspirei olhei-o pelo ombro, pois não sei se deveria abordar o assunto ou esquecer por completo...talvez seja melhor esquecer o assunto.
- Taro é melhor despachares a comer. – Levantando-se da mesa poisando a louça no balcão. – A não ser que querias chegar atrasado. – Rindo-se.
Olhei as horas . Sentei-me a comer com alguma pressa, depois de acabar de comer fui vestir-me com uma camisa xadrezada de tons azuis, brancos, preto e castanho com uns jeans pretos com ténis brancos levando comigo um cuspo grosso. Na entrada Seiji esperava-me á porta, vestia por baixo do casaco de cabedal usava camisola branca, com jeans azul escuro no lado direito tinha uma pequena corrente, e calçava uns ténis de tons escuros.
- Seiji toma. – Dando-lhe um chapéu de chuva.
- Mas vai chover? – Segurando.
- É provável que sim, mas pelo sim e pelo não, leva. Eu também vou levar um.
A caminho da faculdade Seiji disse-me que viria tarde do trabalho. Sentamo-nos nos mesmos lugares da sala aula, pela janela os primeiros chuviscos já a pereciam.
- Parece que tinhas razão, Taro. – Olhando pela janela.
- Parece que sim.
Como odeio dias de chuva, deixam-me um pouco tenso. As aulas correram normalmente até passaram a correr para dizer a verdade. Quando acabaram Seiji foi para o trabalho despedindo-se de mim. Há saída a chuva já se notava com mais intensidade, reparei que havia alguém a treinar kyujutsu. Aproximei-me um pouco.
- Jiro?!
Decide ir ter com ele mais propriamente espreita-lo, a técnica e destreza dele são incríveis.
- Por quanto tempo vais ficar a espiar-me? – Diz Jiro a preparar-se para disparar o projéctil.
A flecha acerta em cheio o circulo do meio.
- Continuas a melhor a olhos vistos. – Observando-o.
- Pareces melhor. – Voltando-se para mim.
Por algum motivo sinto-o diferente em comparação aos outros dias.
- Taro eu... – Olhando fixamente para o arco. – quero pedir-te desculpa pelo o que aconteceu ontem. – Olhando para mim. – A culpa foi minha, foi eu quem tive a ideia.
Continuei a ouvi-lo em silencio.
- Eu arranjei um rapaz que tivesse a voz parecida de Seiji, para que pudesse a trair até aqui...
O que quererá Jiro com isto?
- Jiro porque estás me a contar isto? - – Olhando-o serio. – É para perdoa-te? – Num tom brusco.
- Eu apenas estou arrependido do que fiz. – Num tom derrotista.
È a primeira vez que ouço tal coisa vinda da boca dele.
- Arrependido?!
- Sim, quando conheci-te pensava que eras como os outros tipos. – Aproximando-se de mim. – Mas enganei-me. – Sorrindo-se. - Eu nunca te disse, mas és muito parecido com o meu irmão mais novo.
- Teu irmão? – Surpreendido.
- Sim. – Agarrando outra flecha. – Ele praticava também kyujutsu como eu e tu. – Abrindo o arco posicionado a flecha para atirar. – Aposto que ele teria gostado de te conhecer.
- Teria? – Intrigado.
- Sim ele morreu, foi eu quem o matei-o de desgosto. – Disparando a flecha com uma rapidez incrível, acertando no centro do alvo.
Fiquei sem resposta para lhe dar.
- Eu tinha inveja dele, tinha um talento natural para kyujutsu como tu. – Abaixando o arco. – Foi-lhe diagnosticado, cancro ao qual era incurável. Ele ainda participou em alguns torneios. – Olhando para mim. – Desde que deu entrada no hospital nunca fui visitar-lhe uma única vez, – Sorrindo-se amargamente. - Cada vez que os meus pais iam ao hospital o meu irmão perguntava sempre por mim, acho que esse foi o meu maior erro que cometi na minha vida. Naquela ao altura era demasiado orgulhoso. – Olhando para os alvos. – Cada dia que passava o meu irmão enfraquecia cada vez mais, mas sempre na esperança de o ir visitar.
Fez-se silencio, apenas ouvia-se o som da chuva.
- Quando decidi ir visita-lo, fui tarde de mais. Foi num dia como este que morreu. – Pegando noutra flecha. – Eu culpo-me pela sua morte. Se tivesse deixado o meu orgulho de parte, talvez ele não tivesse morrido tão cedo, talvez estes remorsos sejam o meu castigo.
Nunca pensei que Jiro, me mostra-se a sua faceta emocional e que se abri-se assim para comigo.
- Mas porquê estás a contar-me isto?
- Não sei bem, mas quando vi-te a cair nos balneários relembraste-me o meu irmão de quando teve a primeira recaída. Talvez é por isso que estou a contar-te, fiquei preocupado. Fui eu quem pediu para telefonarem a Seiji para vir-te buscar.
Surpreendeu-me a confissão dele.
- Eu vejo esto como uma segunda oportunidade de me emendar. – Sorrindo para mim.. – Por isso não vou desperdiça-la.
- Jiro...
- De qualquer forma, espero que possas, perdoar-me Taro. – Olhando o céu, aonde as nuvens começavam a deixar o sol brilhar.
A claridade do sol animava mais um pouco a paisagem.
- És a primeira pessoa a quem conto isto. – Olhando para mim.
- Sabes Jiro, penso que todos nós merecemos uma segunda oportunidade, não achas? – Disse.
- Sim talvez tenhas razão.
Afinal Jiro não era aquele monstro que pensava, hoje demostrou-me que tem sentimentos como qualquer pessoa.
- Taro, não comentes a ninguém a conversa que tivemos.
- Claro fica descansado. Continua com o bom treino, Jiro.
- Obrigada. – Ficando de costas para mim em posição para disparar.
Saí da zona de treinos, isto fez-me pensar que talvez não deve-se julgar as pessoas pela aparência.
Cheguei a casa o silencio recebia-me de braços abertos. Tomei o medicamento pois já estava na hora, sentei-me no sofá a ver TV como sempre não dava nada de jeito. Deixei num canal de musicas dava um video clip dos Asian Kung-Fu Genaration “After Dark”. De súbito a paisagem começou a escurecer.
- Mas que treta?! – Indo á janela observar o céu. - Ora bolas não me digas que vai trovejar? Tudo menos isso. – Comecei a entrar em pânico.
Quando era mais pequeno fiquei trancado por acidente num velho barracão, e por infelicidade minha nessa noite trovejou com bastante violência. Deixando-me com trauma.
- Por favor que seja só uma chuvada forte. – Sentando-me no sofá todo encolhido.
Quando vi o primeiro clarão entrei em pânico, com o estrondo paralisei com o medo.
Tentei manter-me calmo, mas não conseguia, então que peguei no telemóvel fiquei a olha-lo por momento pensado, se ia ou não ligar a Seiji por causa disto, eu na minha opinião achei que se lhe liga-se o mais provável é que não viesse, por algo tão parvo mas mesmo assim decidi ligar-lhe, chamava.
- Sim?
- Seiji?! – Num tom baixo.
- Passa-se alguma coisa? – Preocupado – Estás com uma voz esquisita.
- Não está tudo bem. – Rindo-me falsamente. – Apenas queria perguntar-te o queres para o jantar?
Mas que raio estou eu a dizer-lhe.
- Não sei hum...- Pensando. – Deixo ao teu critério.
No momento em que ia falar dá-se um estrondo violento, gritei.
- Taro?! Estás bem?
Desliguei a chamada por engano por ter-me assustado.
Eu tapava os meus ouvidos, mas sem grande efeito, até experimentei por o cobertor á volta da minha cabeça mas com o mesmo efeito. Passado algum tempo ouço a porta de casa a abrir-se.
- Taro, estás bem? – Aproximando-se de mim.
- O que fazes aqui? – Surpreendi-me.
Deu mais um clarão com um estrondo violento encolhi-me todo.
- Taro. – Pondo a mão dele no meu ombro.
- Desculpa-me eu....- Escondendo o rosto entre as pernas envergonhado.
- Taro, olha para mim.
- Não quero.
- Porquê?
- Porque não quero.
- Taro, não deves ter vergonha do teu medo.
Olhei para ele.
- Todos nós temos medo de algo, não é? – Sorrindo-se.
- Sim, mas aposto que este quase ninguém tem. – Bufei.
- Achas, que sim?! Olha eu tenho medo de insectos principalmente daqueles muito pequenos.
Mais uma vez vi o clarão, encolhi-me logo e de seguida veio o estrondo mais uma vez.
Seiji retira seus headfones brancos do pescoço.
- Põe isto nos ouvidos.
Obedeci.
- Deixa-me ver o que tenho para aqui. – Mexendo no seu telemóvel.
Incrível quase não consegui ouvir a voz de Seiji. Sentou-se ao meu lado clicando no ecrã do telemóvel. Comecei ouvir a melodia da musica, só quando o cantor é que começou a cantar reconheci logo a banda eram Plastic Tree cantavam “Spica”, não fazia a minina ideia que Seiji tambem gosta-se deles. O som exterior já não se ouvia apenas a melodia da musica.
Seiji começou a escrever no telemóvel e amostrou-me o que escreveu.
“Não te preocupes, agora está tudo bem ^_^”
Dei-lhe um pequeno sorriso, é a primeira vez que alguém faz isto por mim. Senti a mão dele na minha nuca, empurrando-a até ao ombro, como era gentil, fechei os meus olhos para não ver os clarões. Senti-me muito mais descontraído agora.
Não sei bem quanto tempo passou desde que Seiji estava em casa mas gostaria de ficar assim para sempre naquela descontracção.
- Taro?! Ei Taro!
- Hum… - Abrindo os meus olhos, já sem os headfones nos ouvidos.
- A trovoada já passou. – Olhando para a janela.
Incrível como uma paisagem quase morta passou a algo cheio de vida.
- Como te sentes? – Pondo-me a mão no ombro.
- Agora estou bem. – Olhando para chão.
- Olha vou fazer o jantar, ok?
- Se quiseres eu ajudo-te, é o mínimo que posso fazer.
- Por mim é como quiseres.
Adorei ajuda-lo a fazer o jantar, ele é muito bom a ensinar e explicar técnicas de culinária. Ao comemos Seiji contou-me o que se tinha passado hoje na agencia tinha algo haver com um colega dele que é supersticioso e que entrou em pânico quando viu um gato preto fez um escândalo de todo o tamanho. Também contou que nos treinos de futebol marcou três golos e que o treinador está adorar o desempenho dele.
- Há é verdade Taro, será que podias-me emprestar aquele livro de anatomia humana? – Dando a ultima garfada.
- Claro, quando acabar de comer vou busca-lo.
Seiji ofereceu-se para lavar a loiça, enquanto eu fui buscar o livro ao meu quarto acendi a luz para poder ver melhor. Tinha um pequena prateleira por cima da secretária do computador. Puxei a cadeira pondo-me em cima dela.
- Deve estar para aqui. – Procurando. – Há!!! Aqui está. – Com ele na mão.
Seiji entra no meu quarto.
- Taro precisas de ajuda?
- Não já tenho aqui. – Mostrando-lhe descendo da cadeira.
Nesse momento a prateleira sem motivo algum cede e começam a cair os livro em cima de mim, protegia a cabeça com os meus braços, quando os retirei vi Seiji a correr na minha direcção com toda a velocidade, levando-me ao chão deixando cair o livro da minha mão. Apenas ouço o partir de uma porcelana. Quando levantei-me vi Seiji estendido no chão sem reacção.
- SEIJI!!!! – Correndo ao encontro dele. Apresentava uma pequena ferida na cabeça. - Acorda!!!! – Batendo-lhe nas bochechas, para que acorda-se.
Seiji começou a recuperar os sentido, fiquei muito aliviado. Corri em direcção á casa de banho trazendo comigo os primeiros socorros. Ajudei Seiji a encostar-se á cama sentando-o no chão.
- Pregas-te um susto de morte, Seiji. – Num tom um pouco irritado, desinfectando a ferida.
- Desculpa, não era a minha intenção. – Num tom baixo pouco baixo.
Nunca tinha visto Seiji a reagir assim, como ele é sempre alegre, achei estranho.
- Vá não fiques assim. – Encorajando-o.
É engraço como os nossos papeis inverteram neste momento.
- Era suposto eu ser só o único dramático aqui da casa, não? – Metendo-me com ele.
Seiji nada disse apenas sorri-se.
- Há assim é melhor. – Satisfeito por vê-lo normal. – Bem parece que acabei. – Levantando-me.
Arrumei os acessórios de primeiros socorros na maleta que trouxera.
- Consegues a levantar-te? – Arrumando a maleta a um canto do meu quarto.
- Não sei.
Reparei que tinha alguma dificuldade em pôr-se de pé, ajudei-o a sentar-se há beira da minha cama.
Eu não podia deixa-lo sozinho na sala de noite, tinha receio que lhe acontece alguma coisa enquanto dormia.
- Talvez é melhor dormires aqui.
- Não é preciso. – Levando-se, mas tombado logo de seguida.
- Não é preciso, hum.... – Descordando da sua resposta.
- Ok, ganhas-te. – Aceitando a minha proposta. - Não vale a pena contrariar-te, verdade?
- Nem mais. – Com ar convencido de braços cruzados.
Antes de mais nada, fui á cozinha buscar uma vassoura e pá, para varrer o que restava do meu gato preto de porcelana. Também apanhei os livros que estavam espalhados pelo chão. Após esta tarefa, ajudei Seiji a sentar-se na cadeira pois queria a arranjar a cama para ele.
- Espero que fiques confortável. – Ajudando-o outra vez a sentar-se á beira da cama. – Esqueci-me da tua almofada, volto já.
Na sala peguei na almofada dele no sofá, veio á lembrança como em poucas semanas esta casa de silenciosa e escura tornara-se mais acolhedora e luminosa.
- Aqui tens. – Entrado no quarto, pondo-a na cama.
Fui até ao armário comecei a tirar lenções e cobertores.
- O que estás a fazer? – Diz Seiji intrigado.
- O que te parece-se? Vou ficar aqui dormir contigo. – Num tom serio.
- Mas porque?
- Porque eu quero, imagina que te acontece algo enquanto estás a dormir? – Fechando o armário.
Começando a fazer a minha cama improvisada.
- Isto deve chegar. – Satisfeito.
Reparei que Seiji observava-me, isso intrigou-me.
- Taro? – Num tom baixo.
- Sim?
O olhar dele era profundo como na primeira vez que nos conhecemo-nos.
- Obrigada. – Com olhos semicerrados.
Por esta reacção é que não esperava.
- Não tens de quê. – Sem saber o que responder. – Afinal somos amigos, não? – Batendo-lhe devagar no seu ombro varias vezes, rindo-me com os olhos fechados.
Seiji agarra-me a mão, com muita gentileza fixando o olhar dele em mim. Como o olhar dele ficou ainda mais profundo, por algum motivo o meu coração começou acelerar, esta situação começou a deixou-me desconfortável tinha de dizer algo para acabar com o momento.
- Há é verdade tenho ir á casa de banho lavar os dentes. – Inventando uma desculpa esfarrapada soltando a minha mão da dele. Fui a correr para casa de banho, molhei meu rosto pôs-me a olhar para espelho.
Mas que raio acabou de acontecer? Porque será que o meu coração começou a acelerar daquela maneira? E que sensação foi aquela? Pensando seriamente. Será que eu...NÃO, NÃO pode ser. . isso é impossível, para começar somos dois homens e....Franzindo o sobrolho. ... prometi a mim mesmo que não voltaria apaixonar-me por mais ninguém, já sofri muito no passado por causa desse sentimento, e NUNCA mais quero voltar a sentir isso. Semicerrei os olhos. Foi por isso que selei o meu coração, para que não fosse enganado outra vez por esse sentimento. Suspirei fundo Apenas quero acabar o meu curso.
Comecei a rir baixinho pois parecia um maluquinho, quem iria falar consigo próprio ao espelho a esta hora da noite.
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